terça-feira, janeiro 11, 2011

EBD - O Tema do Trimestre

Neste trimestre, a revista Atitude da editora JUERP, tráz o Livro dos Salmos como tema. São 13 estudos abordando as características deste livro poético, explorando as suas 150 obras poéticas. Os estudos tratam também da formação do livro, sua função e seus autores. Nesta semana estaremos postando os 3 primeiros estudos, seguidos um do outro, já que estamos na terceira semana de janeiro. A partir dos próximos estaremos postando cada estudo em seu respectivo domingo. Para iniciar o assunto, a seguir traremos o estudo introdutório da revista, que fala de um modo genérico sobre o assunto a ser tratado durante os próximos 3 meses na Escola Bíblica Dominical na maioria das classes.


Na Bíblia tem Poesia também 
Teresa Akil

“Depois lhe disse: São estas as palavras que vos falei, estando ainda convosco, que importava que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. Segundo Lucas 24.44, na época de Jesus a Bíblia Hebraica já estava com sua divisão tríplice e o Livro dos Salmos já estava pronto e disponível para a leitura na sinagoga.

Cantado nos cultos e sinagogas, além de recitado diariamente pelos judeus, o Livro dos Salmos tem várias nomenclaturas, dependendo da versão bíblica que se use. Na Bíblia hebraica, ele é conhecido como “Tehilim” ou “cânticos de louvor”. Na tradução grega da Bíblia Hebraica, a LXX, ele é chamado de “Psalmoi” ou “cânticos com instrumentos de corda”. Na Vulgata, tradução para o latim da Bíblia Hebraica, seu nome é “Líber Psalmorum” ou “Livro dos Salmos”. Já a sua designação “Saltério” vem da palavra grega “Psalterion” ou “lira”.

Infelizmente, nós, cristãos, perdemos o hábito de cantar os salmos, reduzindo-o a uma leitura devocional e esporadicamente dominical.

Como nasceu o Livro dos Salmos – O Livro dos Salmos nasceu de uma reunião de 600 anos da história israelita. Durante esses anos, vários foram os homens que, inspirados por Deus, deixaram registrados seus louvores a Deus. Dentre outros, temos Moisés, Davi, Salomão, filhos de Corá, filhos de Asafe, Etã até chegar aos escritores anônimos da época do exílio babilônico.

Todos esses salmos foram cuidadosamente bem guardados e na época pósexílica, quando o povo estava voltando para a terra de Israel e reconstruindo a cidade e o templo de Jerusalém, eles foram reunidos e colocados na ordem que temos hoje (Sl 126).

Como estudar o Livro dos Salmos – Várias são as formas de se estudar o Livro dos Salmos. Os judeus, por dividi-lo em cinco livros, o estudam por blocos: (1) 1-41; (2) 42-72; (3) 73-89; (4) 90-106 e (5) 107-150. Outros preferem estudar esse belo livro a partir das suas quatro famílias literárias. A primeira família é conhecida como a dos “Salmos de libertação”, geralmente reunindo salmos ligados ao evento histórico do êxodo. A segunda é a dos “Salmos de instrução”, ligados ao tema da eleiçãoaliança. A terceira é a família dos “Salmos de louvor”, ligados ao evento da criação. E a última, a dos “Salmos de celebração da vida”, ligada às festas e ocasiões especiais.

Primeira família: Salmos de libertação – Esta família é a mais numerosa do Saltério; reúne ao todo 89 salmos. Nela estão os Salmos 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 13, 16, 17, 18, 20, 21, 22, 23, 25, 26, 27, 28, 30, 31, 32, 34, 35, 36, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 51, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 66, 68, 69, 70, 71, 73, 74, 76, 77, 79, 80, 83, 85, 86, 88, 89, 90, 94, 102, 106, 107, 108, 109, 115, 116, 118, 119, 120, 123, 124, 125, 126, 129, 130, 131, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144.

Eles refletem situações de crises e problemas, sendo a primeira experiência da história israelita, o êxodo, um evento marcante e norteador. Essa família reflete um dos maiores desafios do homem moderno: superar suas crises e encontrar libertação.

Vários são os tipos de libertação registrados nesta família. Aqui, estão registradas libertações de ordem política (74.4- 7; 79.1-3; 137), social (22.2-8), moral (32.8,9), física e psicológica (38.3-15) e existencial (73).

Segunda família: Salmos de instrução – Esta família é composta por 19 salmos (1, 14, 15, 19, 24, 37, 49, 50, 52, 53, 75, 78, 81, 82, 91, 95, 112, 114, 127). Esses salmos foram escritos pelo “mestre” ao seu discípulo ou ao povo de uma forma geral. Os mestres poderiam ser os historiadores, sábios, sacerdotes e, até mesmo, profetas. O tema central dessa família é a justiça de Deus e seu objetivo era educar o povo na prática dessa justiça, ensinando-o a viver conforme a aliança, sendo fiel a Deus ou a voltar-se às exigências da aliança.

Para ensinar essa justiça de Deus usavam a história, a moral e a liturgia. Dois podem ser os exemplos de utilização da história para o ensino da justiça: 114.1-8, que usa a história dos antepassados e o 78.1-8, que cita um evento fundador. Como exemplo do uso da moral para ensinar a justiça, tem-se o Salmo 82.2-7 e como exemplo do uso da liturgia para ensinar a justiça os Salmos 15 e 24.

Terceira família: Salmos de louvor – Reunindo 25 salmos (8, 29, 33, 47, 92, 93, 96, 97, 98, 99, 100, 103, 104, 105, 111, 113, 117, 135, 136, 145, 147, 148, 149 e 150), essa família tem suas raízes na teologia do êxodo, aliança e criação. Essa família tem por objetivo explicar a razão de se louvar a Deus, por isso, mostram quatro facetas de Deus: (1) Deus criador (104); (2) Deus da história (105.12-45); (3) Deus do próximo (103.3,9,10,12) e (4) Deus Rei (47.3,8).

Quarta família: Salmos de celebração de vida – Reúne salmos que louvam a Deus por uma libertação circunstancial ou momentânea ou salmos que louvam a Deus em ocasiões especiais. Como exemplo de salmos dessa família temos os salmos de entronização real (2, 72, 101, 110, 132), os salmos nupciais (45, 128), os salmos dos viajantes (46, 48, 84, 87, 121, 122, 133, 134) e os salmos da festa da colheita (65, 67).

O Saltério e a poesia hebraica – Para entender toda riqueza do Saltério é oportuno conhecer algumas características da poesia hebraica. Como toda obra poética, a poesia bíblica é uma obra literária subjetiva, que retrata o mundo interior do escritor. Mas, apesar de conter subjetividade, tem seu fundo na realidade vivida pelo escritor. Um bom exemplo é o Salmo 137.1-6 que, por meio da poesia, mostra a angústia e a tristeza da vida do exílio:

1 Junto aos rios de Babilônia, ali nos assentamos e nos pusemos a chorar, recordando-nos de Sião.
2 Nos salgueiros que há no meio dela penduramos as nossas harpas,
3 pois ali aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções; e os que nos atormentavam, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos um dos cânticos de Sião.
4 Mas como entoaremos o cântico do Senhor em terra estrangeira?
5 Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, esqueça-se a minha destra da sua destreza.
6 Apegue-se-me a língua ao céu da boca, se não me lembrar de ti, se eu não preferir Jerusalém à minha maior alegria.

Além de utilizar-se da história, a poesia hebraica é caracterizada por três elementos básicos: o paralelismo, o acróstico (utilização das 22 letras do alfabeto hebraico para dividir as estrofes do poema. Exemplo: Salmo 119, onde cada letra é usada para cada seção de oito versículos, começando cada um deles com a letra da respectiva seção) e a falta de métrica e rima. Dessas três, destaca-se o paralelismo.

O paralelismo – Esse recurso literário é a equivalência no pensamento ou na linguagem entre os membros de cada cláusula da unidade de pensamento. Existem vários tipos de paralelismo. Os mais comuns são o sinônimo, o antitético, o sintético, o inverso, o climático e o emblemático.

O paralelismo sinônimo é a forma mais simples. Nele, a segunda linha, em termos diferentes, repete o pensamento da primeira linha. Esta forma equilibra dois pensamentos iguais com palavras semelhantes. Como exemplo tem-se o Salmo 24.1 que diz: “do Senhor é a terra e a sua plenitude; o mundo e aqueles que nele habitam.” Nesse versículo diz, em duas cláusulas diferentes, a mesma coisa: Deus é o Senhor de tudo, tanto do mundo como dos homens. O mesmo mesmo ocorre no Salmo 19.1: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos”, onde é afirmado que tanto os céus como o firmamento revelam a glória de Deus.

O paralelismo antitético é o paralelismo no qual a segunda linha exprime a mesma ideia da primeira, mas de uma maneira negativa ou em termos de contraste. Como exemplo tem-se o Salmo 1.6: “Porque o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios conduz à ruína”. Aqui, há uma contraposição entre o caminho dos justos e o caminho dos ímpios.

O paralelismo sintético, também conhecido como construtivo ou progressivo, ocorre quando a segunda linha complementa a primeira, oferecendo um pensamento completo.

O paralelismo inverso é uma forma de paralelismo em que as frases são arranjadas quiasticamente. Como exemplo tem-se Provérbios 10.4,5 e 23.15,16.

O paralelismo climático é caracterizado quando a primeira linha sozinha está incompleta, e a segunda linha repete algumas das suas palavras para completar o pensamento. Como exemplo tem-se o Salmo 29.1.

Finalmente, o paralelismo emblemático, que ocorre quando a segunda linha fornece uma ilustração figurativa à primeira ou quando a primeira linha serve como emblema para ilustrar a segunda. Como exemplo, Provérbios 25.25 e 11.22.


Extraído da Revista Atitude - JUERP

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